Dos meus primeiros contatos com a cultura oriental, considero as leituras referentes ao Taoísmo como das mais marcantes e definitivas em minhas percepções, particularmente, os ensinamentos e as indicações de Lao-Tse. Decidida a manter sempre alguma atividade que divulgasse o valor das orientações de Lao-Tse, iniciei a elaboração de cartões desenhados em nanquim, um a um, configurando-se aí já uma linha de trabalho que até hoje se constitui como uma das minhas preferidas dentro dos produtos do meu atual trabalho gráfico: a série de cartões denominada “Equilíbrio”.
Desde essa época, uma orientação que muito me toca é a que diz “Cuidem, para que os homens possam confiar em alguma coisa”. O significado dessa orientação me é muito forte e ao constatar um reduzido grau de credibilidade no ser humano de uma forma geral, passei a procurar e a identificar "pilares" em que eu pudesse confiar, como uma possibilidade de sobrevivência em uma existência pautada por dualidades e ilusões. Qual a dimensão de dualidades como a ordem e o caos, o bem e o mal, o certo e o errado, a emoção e a racionalidade, o fugir e o encarar, o verdadeiro e o falso, a miséria e a superação desta, o materialismo e a transcendência, o humano e o não-humano, os outros e eu, o eu e o eu-mesmo?  Que pontos fariam convergir essas dualidades, possibilitando uma existência sem pecados originais e paraísos ilusórios, em quaisquer de suas concepções?  Quanta ingenuidade a minha, nenhum!
Os pontos nunca estarão prontos, eles serão sempre inacabados e mutáveis, assim como vejo o meu EU quando consigo observá-lo sempre a correr no meio do tudo e do nada que é o existir.
Começo a perceber a disritmia de tudo e ao ver a miséria da condição humana, coloco-me em um instável ponto entre a tolerância e a paciência com a existência. Volto então minha atenção a mais uma orientação taoísta, a de não deixar nada transbordar. Não deixar nem faltar nem exceder as revoltas, as raivas ou mesmo as alegrias e as felicidades.
Monica Facó -  jul  2009